DE O GLOBO | Por Priscila Aguiar Litwak
O som do berimbau e da percussão dá o compasso para o gingado da capoeira. Os movimentos são precisos, sejam eles circulares ou de ponta-cabeça. Mais do que um esporte, no Grupo Cultural Senzala, da Região Oceânica, o jogo é uma ferramenta de transformação social. Este ano, em que completa 30 de atividades, o grupo abriu um novo núcleo, no Trevo de Piratininga, que se junta a outros quatro, em Maria Paula, Cafubá, Itaipu e Quilombo do Grotão, no Engenho do Mato.
No novo espaço, os integrantes receberão crianças e adolescentes que desejam aprender capoeira, a tocar ou a confeccionar berimbau, atabaque ou pandeiro. O local também funcionará como um ponto de encontro da cultura da capoeira, explica o idealizador do grupo, Cláudio Fontes, conhecido como mestre Arruda.

Mestre Arruda, de azul, jogando com Lona, que se formou mestre durante as festividades de agosto
— Não gostamos de chamar de sede, porque a intenção é que o trabalho seja pulverizado, pois ele tem de estar perto das pessoas que precisam. Mas a ideia é reunir algumas programações maiores, como workshops fora da agenda convencional.
Boa parte dos professores é oriunda de projetos sociais do grupo. Alguns se formaram este ano como mestre, apesar de já darem aula há mais de 20 anos.
“A capoeira é agregadora, tem esse espírito de coletividade”
Para o mestre Arruda, a capoeira é um saber popular que precisa ser repassado:
— É muito bonito ver nosso trabalho se perpetuando e caminhando sozinho, na maioria das vezes, sem ajuda do governo, mas com o apoio de toda a comunidade. É bonito também ver a mudança de vida que ele provoca. Não é justo que só quem tenha condições financeiras possa ter acesso ao esporte ou que só os formados em faculdade dessem aula. A capoeira é agregadora, tem esse espírito de coletividade. Proporciona espaços de democracia, onde pessoas de diferentes cores, classes, religiões e etnias comungam algo comum que se sobrepõe às diferenças.
Exemplo de professor que participou de projetos sociais do grupo é o mestre Sérgio Buzina, que conheceu a capoeira numa escola de samba e hoje leva seu conhecimento para dentro de uma igreja evangélica no Cafubá.
— Poder fazer por essas crianças o mesmo que fizeram por mim é um privilégio. A capoeira é uma ferramenta de mudança, de evolução. Ela dá disciplina, estimula o cuidado com o outro, consegue unir, chegar em todos os lugares, seja no samba ou na igreja. Nem sempre é fácil, mas vale a pena — diz.
O projeto também tem representantes fora do país, caso do mestre Marcos Chão, que há 17 anos mora em Lyon, na França, trabalhando exclusivamente com o ensino da capoeira. O mestre Joilson Lona também ensina capoeira na França. E há outros professores do grupo atuando na Itália, na Suécia e na Dinamarca.